07 abril 2009

De cor-de-rosa e sabrinas com fita de cetim

Era um canto pequenino. Desenhado a lápis de cera. Com as imperfeições típicas do desenho de uma criança. Mas com os sonhos delineados de forma firme (embora infantil).
Pequena, roliça, mas perfeita.
Mesmo achando que os olhos eram horrorosos, à volta apertavam-lhe o nariz e o brilho era genuíno.
Caminhava como se fosse a casa dela. E já todos os cantos lhe pertenciam. Já todos os cantos lhes pertenciam. E foi aí que aprendeu que há a palavra "essencial".

O passo ameaçava ser duro e o medo (ainda infantil) de quebrar laços era adulto demais. Mas levou com ela todos os cantos coloridos com o arco-íris (aquele imperfeito, a lápis de cera), e, com ela, os "essenciais".

E conheceu outro canto. Menos colorido. Mais exigentemente perfeito. Mas ele com sonhos ainda mais certos, mais convictos, mais carregados. Menos (mais) infantis. Mais (ir)reais. E lá cresceu. Aprendeu que há algo também "essencial" (para além das pessoas). Os sonhos que descobrimos. A paixão, aquela que é certa.

Tropeçou. Num tropeção que ameaçava não ter volta. Dura a queda. Quase impossível de levantar. Levantou. Mas era outra. Os cantos coloridos a lápis de cera ficaram no interior. A palavra "essencial" permaneceu. Mas a ela acrescentou a falta de coragem para dar alimento à "paixão essencial". E foi apenas uma das feridas.

A pequenina continua a dançar nos cantos coloridos e imperfeitos que conheceu, pintou e sonhou. Ela continua, pequenina, perfeitinha, de cor-de-rosa e sabrinas com fita de cetim. Ela continua com o brilho genuíno do azul (e verde) do olhar e do sorriso infantil (ir)real. Consigo vê-la daqui. Só não lhe consigo tocar.

(E ficou aquela que mudou e perdeu as cores do arco-íris. Daí errar tanto. É uma busca incessante pelas cores certas.)