14 julho 2009

A caminho*



A caminho do meu lugar.

Levo-o e espero, como antes, que ele volte maior.
Levei-o noutros tempos, fugiu de mim. Ficou.
Gostava de mandar nele, ser como é melhor. Ser como deixa a vida mais minha.
Não devia ser assim. Não devia.

É natural. Deixem-me apenas mandar nele por quinze dias.
Prometo que volta à essência de ser meu porque sim. Aí, ele vai voltar.

Meu lugar, deixa-o estar aí comigo. Depois volta comigo. E tudo continua. Meu lugar.

(Quebramos os dois. Agora não.)

11 julho 2009

Desconfio.


Dobrou as camisolas com o preciosismo de sempre. As sapatilhas no sítio certo com a mala a rebentar de um ano de vivências. Despiu aquele canto de tudo o que o tornava diferente, tudo o que o tornava dela. Agora é um nada marcado de algo que teve. E tantas vezes eu vi (vivi, senti).

Todas as idas eram uma ameaça.
Quando voltava já os caminhos eram diferentes, mas voltava.

Voltou para lhe lembrar que este canto ainda tem as recordações. Tem todas as marcas. Todas as recordações em amarelo coladas na parede. Que continuo a "passar a ponte".

Aquele abraço abstrato por tantas vezes imaginado.
Aquele sorriso cansado, meigo e vivido.
Aqueles olhos ternos, o olhar mimado.
As palavras de criança que me ficam no ouvido.

Aquele dia que é apenas mais um, mas em tudo é diferente.
Aquele dia tão rápido que chega de repente.
Aquele teu desconfiar, que é o meu, que é o nosso.
Aquilo que quero guardar. Guardar. Guardar.

A caixa está lá, não faz barulho, sussurra. Ela sabe tudo, vê, ela lê os olhos nossos. Em todos os tons ela sabe, ela sente o que é diferente. Em todos os tons ela sabe, ela conhece esta gente.

Não quero pensar nos medos, os segredos já criamos. Não quero pensar nos erros, guardo mimos, palavras, sorrisos. Guardo aquilo que é nosso. Só nosso.

Desconfio meu bem*



O Jardim - Tiago Bettencourt

04 julho 2009

Ela e Ele.

Ela
"Mas porque é que a gente não se encontra
...
Eu fui mesmo até à casa de fado
Mas tu não estavas em nenhum lado"


Ele
"Já vai há coisa de um mês e tal
Que eu não a vejo entrando num bar!"



E em tons diferentes eles procuraram. E o caminho parecia tão diferente, tão distante, tão oposto. Tropeçaram. Escreveram as vírgulas no sítio errado e o ponto final veio sempre ameaçar, tornando-se reticências.


Eles erraram. Eles foram por caminhos errados. Baixaram os braços e fingiram seguir.



"Mas ela vai voltar"



E voltaram. E tentam, agora mais do que nunca. Ela saiu da casa de fado e ele veio fumar o seu cigarro para fora do bar. E, desta vez, correram os dois em uníssono. No caminho, voltaram-se a encontrar.


"Afinal não estamos assim tão fora do tom" :') *