11 julho 2009

Desconfio.


Dobrou as camisolas com o preciosismo de sempre. As sapatilhas no sítio certo com a mala a rebentar de um ano de vivências. Despiu aquele canto de tudo o que o tornava diferente, tudo o que o tornava dela. Agora é um nada marcado de algo que teve. E tantas vezes eu vi (vivi, senti).

Todas as idas eram uma ameaça.
Quando voltava já os caminhos eram diferentes, mas voltava.

Voltou para lhe lembrar que este canto ainda tem as recordações. Tem todas as marcas. Todas as recordações em amarelo coladas na parede. Que continuo a "passar a ponte".

Aquele abraço abstrato por tantas vezes imaginado.
Aquele sorriso cansado, meigo e vivido.
Aqueles olhos ternos, o olhar mimado.
As palavras de criança que me ficam no ouvido.

Aquele dia que é apenas mais um, mas em tudo é diferente.
Aquele dia tão rápido que chega de repente.
Aquele teu desconfiar, que é o meu, que é o nosso.
Aquilo que quero guardar. Guardar. Guardar.

A caixa está lá, não faz barulho, sussurra. Ela sabe tudo, vê, ela lê os olhos nossos. Em todos os tons ela sabe, ela sente o que é diferente. Em todos os tons ela sabe, ela conhece esta gente.

Não quero pensar nos medos, os segredos já criamos. Não quero pensar nos erros, guardo mimos, palavras, sorrisos. Guardo aquilo que é nosso. Só nosso.

Desconfio meu bem*



O Jardim - Tiago Bettencourt

1 comentário:

Bézinha* disse...

ate me emocionei =')*