14 abril 2010

Pacientemente (fingindo)


Virei costas e esperei. Esperei de braços cruzados, mas com um sorriso. Fingi-me de paciente. Não olhava, mas esperava. Pacientemente (fingindo). Dizia que ia só porque tinha de ser assim, convencendo-me a mim mesma de que era o melhor para o meu orgulho. E sabia tão bem que não era uma questão de orgulho. Não era.


Já conhecia aquela letra. Muito mais as palavras. De olhos fechados sabia como a caneta ia passando pelo papel. Já sabia. Conhecia isso tão bem como o meu nome. E insistia que tinha que ser assim, pacientemente (fingindo) esperava. Não por ser o melhor, sim porque queria tanto que o cenário não podia ser outro.


Sabia de cor como a caneta passava pelo papel, de olhos fechados.


Já não sei. Não conheco a letra, não sei no que as palavras se tornaram. Nem de olhos abertos reconheço. Nem virando-me de frente. Quando me virei, vi irreconhecível o que sabia de cor, de olhos fechados e costas viradas esperando pacientemente (fingindo).


De frente, de olhos abertos e descruzando os braços, virei costas para o caminho certo. Ainda não sei qual é o caminho que devo seguir, mas sei de cor, de costas viradas, de olhos fechados, de braços cruzados aqueles que nunca mais seguirei.