01 outubro 2010

E s t a r.

Falavam comigo e pareciam-me estranhos. Na verdade, não eram eles os estranhos. Mas aos meus ouvidos tudo aquilo soava estranho. Talvez porque não era aquele o lugar onde estava o meu pensamento (assim como em todo aquele dia). Nem aquelas pessoas, muito menos aquelas pessoas. Elas falavam normal, mas soava estranho. E onde senti, muito poucas vezes, não pertencer voltou a acontecer. Deixou de ser familiar por aqueles instantes.

Pela primeira vez, bateu. Queria, nem que fosse por cinco minutos, aquele gesto que já é parte de mim. Que já é meu. Nem que fosse por cinco minutos aquela pele. Mas não. (não podia, naquele dia não podia ter sido assim).

Os que me pareciam estranhos chamar-me-iam louca se vissem as lágrimas que cairam, abundaram, pesaram (nem que fosse por cinco minutos).

Pela primeira vez percebi que assim não poderei ser eu. Pela primeira vez voltei a ser pequena e a pedir para me deixarem ser eu. E descobri que a minha palavra é e s t a r.

Pela primeira vez percebi que assim não sou capaz de ficar.

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