06 agosto 2009

Ficar ferido a ter de matar.

"Há uma vida que te aconteceu, que percorreu caminhos dentro de ti. E agora. Agora isto. Reduzida a sentidos. O imediato, apenas isso. Repara que só existes por segundos. Digamos que não reténs."


"Eu tento dizer-lhes, Laura, mas não consigo.
Não sei porque quis fugir, não sei porque já não te queria se um dia te quis tanto. As incompreensíveis armadilhas do amor, quem as sabe explicar. Um homem foge quando pensa que está a morrer. Preferia, se isso te consola, Laura, que fosses tu a abandonar-me. Havias de perceber que é humano, preferir ficar ferido a ter de matar."


Rodrigo Guedes de Carvalho, "Mulher em Branco"



Desejo de, por vezes, ser "mulher em branco". Ficar "reduzida a sentidos".
Pelo ardor, a pele quente e queimada que me magoa sentir (tantas vezes). Pela respiração que às vezes prefiro não ver. Pelo cheiro, pelo calor, pela mágoa.
Desejo ficar "reduzida a sentidos" qual manhã indefesa. Desejo.
Desejo tantas vezes afastar o desejo que me queima. Arde
e
sufoca.
O calor que não quero perto.
A
pele queimada que quero minha.
A minha.
Vai
procura o que mereces.
Não
me vejas assim.
Olha
para o lado e esquece. Esquece-me.
Mata. Fere.
Deixa-me sem o sufoco de não querer sentir o ardor na pele queimada.
"mulher em branco". quero-o ser para te sentir.

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